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25 de Julho de 2025
Foto: Freepik
O avanço das plataformas digitais de apostas e a ampliação do acesso a jogos de azar têm reacendido discussões sobre os impactos da ludopatia no Brasil. Classificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um transtorno mental, o vício em jogos representa um fenômeno crescente no país, com efeitos relevantes sobre a saúde pública, a estabilidade financeira das famílias e o bem-estar emocional da população.
Estimativas recentes, divulgadas pelo Senado Federal, apontam que mais de 2 milhões de brasileiros convivem com o transtorno do jogo patológico, também conhecido como ludopatia. Em 2024, cerca de 15% da população realizou algum tipo de aposta, com maior prevalência entre jovens de 16 a 24 anos. O comportamento, que em muitos casos se inicia como atividade recreativa, pode evoluir para um padrão persistente comprometendo diferentes áreas da vida pessoal, social e profissional.
“O jogo passa a configurar um transtorno mental quando deixa de ser uma atividade controlada e recreativa e passa a provocar prejuízos concretos, como endividamento, sofrimento psíquico e comprometimento de relações interpessoais”, explica Dr. Rodrigo Lancelote, psiquiatra e diretor do Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental de Franco da Rocha (CAISM) e do Hospital Estadual de Franco da Rocha, unidades gerenciadas pelo CEJAM em parceria com a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES -SP).
De acordo com o especialista, os jogos de azar envolvem risco financeiro baseado no acaso e, culturalmente, são percebidos por muitos como forma legítima de entretenimento. No entanto, em alguns casos, o envolvimento excessivo, em termos de tempo e dinheiro, pode levar ao desenvolvimento de um transtorno psiquiátrico.
“Chamamos de comportamento de jogo patológico. E ele costuma evoluir em três fases distintas. Na fase inicial, os ganhos são interpretados como indicativos de habilidade, o que leva à repetição do comportamento. Depois, o jogador passa a perder com frequência e tende a reinvestir recursos na tentativa de reverter o prejuízo. Já no estágio final, observa-se aumento do isolamento, dificuldades familiares, esgotamento emocional e comprometimento funcional relevante”, enfatiza.
Os impactos se estendem à vida financeira, à produtividade no trabalho, ao convívio familiar e à saúde mental. “É comum que o jogo se torne um elemento organizador da rotina do indivíduo, substituindo relações, ocupações e projetos pessoais. As consequências incluem a inadimplência, perda do emprego, conflitos conjugais e exposição a riscos legais”, complementa.
Estudos apontam que a ludopatia apresenta elevada taxa de comorbidade com outras condições psiquiátricas, como transtornos do humor, bipolaridade, transtorno de ansiedade generalizada, estresse pós-traumático e dependência de substâncias. Informações da Pesquisa Nacional sobre Álcool e Condições Relacionadas indicam que indivíduos com transtorno do jogo patológico têm maior vulnerabilidade ao desenvolvimento desses quadros, o que aumenta a complexidade do tratamento.
“Não é raro que o jogo seja utilizado como uma tentativa de regulação emocional ou fuga de situações adversas. Isso torna o comportamento particularmente resistente à mudança, especialmente quando não há um olhar clínico ampliado para as condições associadas”, analisa Lancelote.
Embora historicamente mais frequente entre homens, o transtorno tem atingido de forma crescente o público feminino. Estima-se que cerca de um terço dos casos atualmente envolva mulheres, que, conforme o médico, tendem a apresentar maior prevalência de sintomas depressivos e uso do jogo como forma de lidar com sofrimento emocional.
Além disso, o aumento da oferta digital também tem exposto de forma precoce adolescentes e jovens adultos a comportamentos de risco. “A acessibilidade contínua aos jogos, aliada a elementos como recompensa imediata, gamificação e anonimato, torna o ambiente propício ao desenvolvimento de padrões compulsivos, especialmente em indivíduos com maior vulnerabilidade psíquica ou social”, pontua o psiquiatra.
O tratamento da ludopatia requer uma abordagem multidisciplinar e individualizada. Entre as estratégias utilizadas, destacam-se terapias psicodinâmicas, comportamentais, grupos de apoio como Jogadores Anônimos e, quando necessário, intervenções farmacológicas para comorbidades psiquiátricas.
Segundo o especialista, o processo terapêutico deve considerar a trajetória de vida do paciente, seu contexto social, histórico familiar e hábitos de consumo. “Além da escuta clínica, é importante oferecer suporte em áreas práticas, como reorganização financeira e reconstrução da rede de apoio. Técnicas de prevenção de recaída, treinamento de habilidades sociais e planejamento de atividades complementares são recursos frequentemente utilizados”, destaca.
O atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é realizado por meio da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), com apoio dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que funcionam no sistema portas abertas, ou seja, não é preciso realizar agendamento. No entanto, o desconhecimento sobre o transtorno e a ausência de capacitação específica ainda são entraves para a identificação precoce e o encaminhamento adequado dos casos. “É fundamental que os profissionais estejam preparados para reconhecer o quadro e atuar de forma integrada com a rede”, afirma.
Outro ponto que merece atenção é a necessidade de políticas públicas voltadas à prevenção da ludopatia. Embora o Ministério da Saúde participe das discussões por meio de grupos interministeriais, ainda há lacunas significativas na articulação entre os setores envolvidos e na implementação de estratégias educativas.
“Qualquer avanço na regulamentação precisa considerar os riscos à saúde pública. A existência de um marco legal não elimina a necessidade de campanhas de informação, capacitação de profissionais e fortalecimento da rede de cuidado. O Brasil ainda carece de um plano nacional específico para o enfrentamento da ludopatia”, conclui o psiquiatra.
Fonte: Comunicação, Marketing e Relacionamento
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