Cego desde desde criança se adaptou à falta de um dos sentidos. A Claudenir enxergava, mas há cinco anos perdeu a visão por causa da diabetes e precisou recomeçar. Aprendeu a usar a bengala, foi chegando cada vez mais longe, até se deslocar de transporte público.
(Hoje eu sou uma cidadã comum, eu posso ir e vir), afirmou Claudenir, de 46 anos.
O Anderson usa o ônibus sozinho há 18 anos, até para entrevistas de emprego.
(Quando não tem ninguém no ponto, eu paro o ônibus por causa do som, aí fico de frente da porta e pergunto para onde vai e qual ônibus é. Se me serve, eu subo e sigo o caminho), disse Anderson Ortega, de 35 anos.
Quando a gente conta essas histórias, não está falando apenas de pegar um ônibus. Para chegar até esse ponto, eles já superaram muitas etapas, superaram inclusive o medo. Essa é uma estrada longa, muitas vezes muito difícil, mas que leva à independência.
A adaptação começa em um treinamento com ônibus parados.
(Esse treinamento é um pré-treinamento para a realidade, ela sai daqui e já vai para o treinamento real. Parar em um ponto de ônibus, ele já vai saber onde levar a mão dele, explorar o degrau com a bengala, onde se sentar, entrar no ônibus e falar (me leva para tal lugar)), explicou Eduardo Drezza, professor de orientação e mobilidade.
Aos poucos, a confiança aumenta.
(É importante que você começa a sentir melhor, porque isso derruba a gente, é difícil), disse o mecânico aposentado Demóstenes Campos Filho.
Wilson perdeu a visão há cinco anos por causa de um tumor. Ele só sai de casa acompanhado por alguém da família. Mas, hoje, percebeu que é capaz sim de ir além do bairro onde mora e sozinho.
(Sinceramente, não sei, é tanto lugar para gente ir, sei lá, um parque, um Parque do Ibirapuera, andar no centro. Não dá para ficar só em casa, você tem que se adaptar, tem que sair, tem que conhecer o mundo de novo, essa nova vida), contou o vendedor aposentado Wilson da Silva.
Fonte: G1.com