Andar pelas ruas de Mogi das Cruzes, para mães de cadeirantes, pode ser considerado um campo minado quando estão acompanhados de seus filhos. Buracos, entulhos e postes nas calçadas atrapalham a passagem. A solução encontrada por elas, muitas vezes não é a ideal, mas a única saída: caminhar no meio-fio.
Diariamente, Ângela de Jesus Gomes atravessa a cidade, saindo do distrito de Brás Cubas para ir até o Mogi-Moderno, ou Mogilar, para levar seu filho nos diversos tratamentos que ele precisa fazer por conta do atraso neurológico.
As dificuldades já começam na rua da casa da família. Já que o local fica em uma subida, encarar o morro não é tarefa fácil com a cadeira de rodas pesada. Ângela conta que às vezes fica difícil até mesmo pegar ônibus. *Às vezes eu fico esperando o ônibus por até meia-hora e, quando chega, o motorista percebe que o elevador está quebrado e nós não conseguimos embarcar. Nessa história de ficar esperando o próximo o ônibus, meu filho já chegou atrasado várias vezes para as aulas).
Segundo a mãe, o caminho mais fácil a se percorrer seria de trem. O problema é que a estação de Brás Cubas não tem acessibilidade. (Se eu fosse de trem, seria bem mais rápido e a gente não ia encontrar grandes dificuldades pelo caminho. O complicado é que lá não tem rampa, é só escada. Ai acontece de ter que ficar pedindo para os guardas me ajudarem a levar o meu filho e a cadeira. Se as outras estações têm rampa, porque em Brás Cubas não tem?)
Lorenzo apresenta um quadro de atraso neurológico e precisa fazer tratamento de fisioterapia respiratória, fisioterapia ocupacional, acompanhamento com fonoaudióloga, além de hidroterapia e mais sessões de fisioterapia voltadas para a coordenação motora.
Por conta de problemas no elevador do ônibus, filho de Ângela já chegou atrasado nos tratamentos que faz em Mogi (Foto: Ângela de Jesus Gomes/Arquivo Pessoal) Por conta de problemas no elevador do ônibus, filho de Ângela já chegou atrasado nos tratamentos que faz em Mogi.
Por conta de problemas no elevador do ônibus, filho de Ângela já chegou atrasado nos tratamentos que faz em Mogi.
No distrito de César de Souza, Jocélia Correa Camargo não consegue ao menos levar a filha Rafaela Camargo para a escola sem encontrar algum obstáculo pelo caminho. Segundo ela, em frente à Escola Estadual Professora Dória Peretti de Oliveira, a calçada não está em boas condições. (A calçada está quebrada, não tem rampa e a vaga para estacionamento de carros para deficientes não está bem sinalizada.)
Falta de sinalização prejudica o desembarque dos cadeirantes (Foto: Jocélia Correa de Camargo/ Arquivo Pessoal) Falta de sinalização prejudica o desembarque dos cadeirantes.
Falta de sinalização prejudica o desembarque dos cadeirantes (Foto: Jocélia Correa de Camargo/ Arquivo Pessoal)
Rafaela tem 11 anos e é portadora de uma doença degenerativa que enfraqueceu a musculatura. Desde os oitos anos ela está na cadeira de rodas. Já na adolescência, a mãe conta que levar a filha para escolher uma roupa, desejo comum entre as meninas dessa idade, também implica em novas dificuldades.
(No Centro é pior. Eu só consigo ir com ela no final de semana, principalmente aos domingos. Caso contrário, é uma maratona de tanto degrau).
Jocélia acredita que a origem dos problemas que os deficientes enfrentam seja o descaso da administração pública.
Fonte: G1.com